sexta-feira, 3 de setembro de 2010

ESQUECER

Minha memória não anda lá essas coisas. Com algum esforço lembro do que não devo esquecer. Esquecer o quê mesmo? O que fiz? O que deixei de fazer? Afinal, quem se importa? Não deixa de ser incrível a capacidade humana no exercício da memória seletiva onde a conveniência é o determinante máximo e, sem o menor constrangimento, faz-se o uso teleguiado de retalhos de realidade, costurando uma nova verdade tal é qual uma formosa colcha. O esquecimento conveniente é disseminado aos desavisados, que apenas se lembrarão que algo mais ou menos assim aconteceu ou não, muito embora por vezes sejam invocados a testemunhar. O caminho do esquecimento é paralelo ao das memórias. Já foi dito que a verdade é relativa e a mentira absoluta. Contudo, uma verdade construída por retalhos intencionalmente selecionados forma a realidade de um Frankenstein. O esquecimento tem propriedades terapêuticas quando utilizado nas medidas certas. A manipulação intencional da memória faz do esquecimento um veneno. Que não se confunda a valoração de nossas lembranças de acordo com nossos próprios paradigmas, quando desprezamos ou mesmo descartamos recordações. Esse é um direito inalienável fundado no livre arbítrio. Esquecer é uma ferramenta humana e construir memórias uma conveniência...

Nenhum comentário:

Postar um comentário